sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

A maior vergonha

A natureza tem as suas exigências, seus códigos de conduta, seus rituais. As coisas têm cada qual o seu lugar e nos provoca estranheza quando vemos algo onde não deveria estar. A natureza é avessa a subversões. Acostumamo-nos com a hierarquia dela e aquilo que disso se afasta nos choca e incomoda.

Houve um escritor inglês que disse que os homens são tão superiores aos animais que um homem não se comporta jamais como um animal: ou lhe é superior, quando age racionalmente, ou inferior, quando, deixando de lado a inteligência, entrega-se aos instintos mais baixos. Igual, jamais.

E isso é bastante fácil de se ver. Ninguém faz nada quando um cachorro pega a comida do outro; no máximo se grita para o espantar. Mas não há nisso nada de excepcional. Ao contrário, se fosse um homem a se apropriar daquilo que pertence a outro homem, aí já chamaríamos de outra coisa -- de roubo ou de furto -- e já julgaríamos necessário mobilizar a polícia e os tribunais para identificar e punir o criminoso. E tal homem não poderia alegar em sua defesa não estar fazendo senão aquilo que qualquer vira-lata faz em nossas ruas. A maior prova da superioridade humana sobre o resto da criação reside no fato de os animais não serem sujeitos ativos do Direito Penal.

O superior não age jamais como o inferior: esta é a sua honra e a sua vergonha. Ora, há o Sport e há os outros times de Pernambuco, com uma diferença entre eles quase tão grande quanto a que existe entre o rei da França e um jumento baio. Um jumento que empaca não provoca comoção alguma; mas se Sua Majestade se pusesse de quatro a zurrar, tal feito entraria nos livros de história e jamais seria esquecido. Ora, mas não é a exata mesma coisa, alguém poderia perguntar? Não, não é, porque uma coisa é um jubaio e, outra, um nobre francês. Aquilo que o primeiro pode, não cabe ao segundo fazer igual.

Há o Glorioso Leão da Ilha e há a Tricobarbie, e da mesma forma que um rei não pode andar de quatro por aí o Sport não pode perder como o Náutico ou o Santa. Aquilo, que em um caso seria natural e esperado, é, para o Sport, uma humilhação inaudita. Que um timbu velho saia correndo quando alguém pisa mais forte no chão, nisso não há nada de mais. Agora, que um leão recue cabisbaixo perante o marchar dos ferroviários, isso é inadmissível, é vergonhoso e é notícia.

Ninguém se lembra de quantas vezes a cobrinha teve que voltar moída para o canal. Já o Sport entregar três gols em dez minutos e perder nos pênaltis, isso é o poste mijando no cachorro, é um acontecimento. A maior vergonha da noite de ontem não foi a eliminação da Copa do Brasil, que isso é besteira. O pior, o doloroso, o humilhante, foi ver o Glorioso sendo tratado como a minhoca, apanhando como o timbu.

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