Aquele que mantém a calma diante do perigo é o verdadeiro sobrevivente: e foi assim que o Sport se portou nas semi-finais da Copa da Nordeste. Perdera para o Santa Cruz na Ilha do Retiro no jogo de ida; na volta, jogando no campo do adversário, precisava vencer a qualquer custo para continuar na competição.
Alguém poderia dizer que o time não precisava disputar esta final; afinal, os rubro-negros estão jogando não dois nem três, mas cinco campeonatos ao mesmo tempo. O Glorioso é finalista no Campeonato Pernambucano e na Copa do Nordeste. Está nas Oitavas da Copa do Brasil. Está, também, disputando a Sulamericana. E, é claro, ainda tem a série A do Brasileirão que começa ainda está mês. São muitas competições simultâneas, mas para o Rei dos Gramados não existe tempo ruim. O Sport é como o Leão cercado de caça farta, qualquer uma delas ao alcance de suas garras poderosas.
Poderiam dizer que o Sport não precisava se desgastar com esta final; mas ele se confrontou justamente com a minhoca do canal do Arruda. A minhoca que veio rastejante da série D do Brasileirão e parece já ter iniciado o seu caminho de volta, ladeira cada vez mais abaixo. A minhoca que, cega e patética, ousou passar os últimos dias debochando do Sport. Aí não.
Foto: Guga Matos/JC Imagem. |
Aí não, porque os grandes times têm um nome a zelar. O sagrado manto rubro-negro não poderia ficar assim exposto ao escárnio das tricobarbies. O escudo glorioso do Sport não poderia se sujeitar inerte às patas imundas dos vira-latas de três cores: toda a situação clamava por uma reparação.
E ela veio na noite de ontem no Arruda: o Sport impondo terror ao seu adversário, o silêncio sepulcral tomando conta das ruas ao redor, do bairro, de tudo. Nunca se viu um silêncio tão pesado, mas tão pesado que podia até ser visto e ouvido. Quem o ouviu disse que ele era ensurdecedor; quem o viu, garante que ele era preto, branco e vermelho. O silêncio dos deixados para trás.
A minhoca olhou um dia o seu reflexo nas águas sujas do canal e achou que era uma cascavel venenosa. Quis, por conta disso, crescer para cima do Leão: que desastre! Se o time pudesse hoje voltar atrás aposto que não teria se animado tanto. Não teria debochado assim do seu algoz. Mais até: se visse antecipadamente a heróica vitória do Sport ontem à noite talvez o Santa Cruz não tivesse nem coragem de entrar em campo para o primeiro jogo. Teria preferido enfiar-se na lama e entregar de bandeja a vaga na final a quem de direito -- tudo para não ter que sofrer a humilhação de hoje.
Há times que mantêm a calma diante do perigo, e estes são os vencedores. Mas há os desesperados, há os que não sabem o que fazer, os que se zangam e começam a espumar. Este é o Santa Cruz. Perdendo ontem em casa, abrindo passagem -- no próprio campo! -- para o desfile triunfal dos rubro-negros, o Santinha se desesperou. Incapaz de mostrar melhor futebol que seu adversário partiu para cima dele com os punhos e as chuteiras, com socos e empurrões, chutes e voadoras. O jogo teve que ser suspenso por diversas vezes; no final, três jogadores do time de casa haviam sido expulsos. Foram os últimos espasmos dos afogados, buscando em seus estertores arrastar para o fundo quem quer que estivesse por perto. O Sport soube se desvencilhar e seguir adiante. E, enquanto a minhoca jaz afundada, o Leão ocupa o lugar que lhe pertence por direito.