terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Domingo a caça foi farta

Domingo foi um dia extraordinário. Digo mais: domingo foi um dia que parecia não caber em apenas vinte e quatro horas. O que digo? Não foi nem o domingo inteiro. Aqueles noventa minutos no campo da Ilha do Retiro, as quase duas horas entre as cinco da tarde e as sete da noite poderiam preencher o domingo inteiro e ainda seria pouco.

Domingo foi um dia de festa para a torcida rubro-negra! Conquistamos ao mesmo tempo a permanência na Série A, a artilharia do campeonato brasileiro e a última vaga da Sulamericana. Parece muito para um jogo somente; mas não é à toa que o Leão é o rei dos gramados. A fera ao final não decepciona -- e com a força de suas garras sempre consegue providenciar uma caça farta e saborosa.

Foto: Globo Esporte
Primeiro, a Série A! Ela é nossa. É nossa porque compete ao Leão permanecer, altivo e majestoso, na elite do futebol brasileiro, fazendo a glória de Pernambuco e exaltando o sagrado manto rubro-negro. Houve quem temesse uma recuperação súbita do Inter. Mais: houve quem apostasse nisso. Dizem as más línguas que houve até quem pagasse para tanto... mas as torcidas, as apostas e mesmo os negócios escusos não lograram manter o Colorado na primeira divisão.

Eles se esforçaram. Primeiro, o Fluminense deu férias para mais da metade do elenco. Entrou em campo praticamente com a equipe dos juniores, com um time totalmente improvisado. Houve jogadores que nunca haviam passado tanto tempo dentro de campo -- nem mesmo no treinamento! Depois, o Fluminense perdeu um pênalti. De propósito. Bateu em cima do goleiro. Não fosse o bastante, na etapa complementar o time carioca substituiu o goleiro. O time de juniores do Fluminense, cujos atacantes perdiam pênaltis de propósito, passava a guarnecer as suas traves com o goleiro reserva! Era demais. Nunca se viu um arrumado tão grotesco; no entanto, nem mesmo assim a terceira força do Rio Grande do Sul conseguiu se segurar de pé. Não arrancou senão um vexatório empate no Rio de Janeiro -- é a prova cabal de que um barracão não se transforma jamais em palácio, ainda que seja coberto com os mais ricos tapetes que o dinheiro pode comprar.

Mas nem adiantaria. Aqui, na Ilha do Retiro, o Leão foi à desforra. Lançou-se sobre o Figueirense com a ferocidade de um caçador experiente: Florianópolis estremecia a cada vez que o ataque do Sport desbaratava a defesa do time visitante. Foram dois gols precisos, milimétricos, exatos: Rogério e Diego Souza liquidaram a partida. Com o gol, o meia rubro-negro alcançou a admirável marca de catorze gols na competição: não houve no Brasil inteiro ninguém que marcasse mais do que ele! E como se não bastasse, como se fosse preciso fechar o campeonato com chave de ouro, a surpresa ainda veio de graça, numa bandeja de prata, como um leitão assado de maçã na boca e tudo: o Coxa e o Vitória, perdendo, abriram espaço para que o Sport subisse na tabela até a décima-quarta posição, garantindo a sua vaga na Copa Sulamericana do próximo ano. Sim, senhoras e senhores, a vitória foi brutal: domingo não sobrou pedra sobre pedra.

Domingo a vitória foi completa. Caídos no chão, deitados em posição fetal, chorando como bezerros desmamados, estavam o Inter, o Figueira, o Coxa e o Vitória: sobre todos eles, de pé, altivo e majestoso, o Leão contemplava o estrago feito -- e o seu rugido vitorioso se fez ouvir pelos quatro cantos do Brasil.

Domingo o uniforme rubro-negro brilhou e mais: parecia que cada um dos torcedores do Sport refletia, no fim de semana, um pouco da glória do Leão da Ilha do Retiro. Foram dois gols e, de repente, dezoito milhões de rubro-negros experimentaram uma alegria como não tiveram o campeonato inteiro. Foi uma cena linda de se ver: o Leão vitorioso, com os adversários prostrados sob as suas patas poderosas e, ao redor dele, dezoito milhões de uniformes rubro-negros que chegavam a resplandecer na escuridão recifense.