domingo, 18 de junho de 2017

Ninguém parece esperar mais nada

Foi com um misto de temor e apatia que a torcida rubro-negra compareceu à Ilha do Retiro, na noite deste domingo, para ver o Sport jogar. A partida não se afastou muito dos ânimos com os quais os rubro-negros foram ao estádio: apresentando um futebol apático e decadente, cadavérico até, o Sport não pôde fazer frente ao visitante baiano e amargou a sua quarta derrota no Campeonato Brasileiro de 2017.

Eis o que aconteceu: a torcida não estava confiando no time e, em contrapartida, em retribuição, o time mais uma vez não jogou a ponto de encher os olhos da torcida. Não é nem mesmo possível dizer que o elenco tenha decepcionado os torcedores: afinal de contas, para que haja uma decepção é preciso que existam expectativas sinceras que venham a ser frustradas. Uma pessoa na qual ninguém confia não decepciona ninguém. E o time rubro-negro, verdade seja dita, perdeu a confiança dos seus torcedores.

Foto: Globoesporte
Mas por que essa tragédia? Dezoito milhões de rubro-negros sem confiar no Glorioso? Toda uma multidão de torcedores do Sport enchendo a Ilha do Retiro sem verdadeira expectativa de que o time jogasse com garra -- jogasse com determinação e coragem, lançando-se sobre o inimigo com o furor de um náufrago, estraçalhando o adversário com o desespero de um soldado aliado no desembarque da Normandia? Nada disso aconteceu e por outra: nada disso poderia jamais acontecer porque ninguém esperava que nada disso acontecesse. É a maior tragédia destes dias: ninguém parece esperar mais nada.

Em outros tempos não era sequer necessário sair para ver o time jogar: eram as vitórias rubro-negras que, heróicas, épicas, epopéicas, vinham bater à nossa porta e desfilar garbosamente diante de nossos olhos. Eis a verdade: ontem não era sequer necessário sair para ver o Sport ganhar porque as vitórias do time estampavam as capas dos jornais, ocupavam o horário mais nobre dos telejornais esportivos e monopolizavam as conversas nas mesas de bar. Elas vinham até nós com uma obscena naturalidade, enchendo de alegria a nação rubro-negra e envergonhando os nossos adversários que delas não conseguiam fugir.

Hoje não. Hoje o time anda apático e atarantado, sem se encontrar em campo, sem honrar o escudo estampado na camisa e sem fazer valer o sagrado manto rubro-negro do qual é herdeiro e portador. Por quê? A torcida não o sabe e, pior!, sai culpando a todos, atirando para todos os lados, no instinto desesperado de quem precisa abater um inimigo que não sabe exatamente onde se encontra. É o treinador. É o volante. É a escalação. A formação do time. A diretoria. O gramado. O calendário dos jogos. É tudo e, justamente por conta disso, acaba não sendo nada: as variáveis mudam uma a uma e o resultado final permanece inalterado. Onde está a glória rubra-negra, aquela que já foi cantada em prosa e em verso, diante da qual a torcida já tantas vezes se emocionou, os homens vibraram vitoriosos e, as mulheres, suspiraram enlevadas? Onde está?

Esta é a pergunta mais importante a ser feita neste momento. O time precisa encontrar-se com o seu passado, reconciliar-se com a sua majestade e, tranquilo, sereno, simplesmente ser aquilo que é: o Glorioso, o destemido Leão da Ilha do Retiro, cujas garras destroçam os adversários como se fossem ripas velhas de madeira e cujo rugido faz desmoronarem as formações técnicas dos times contra os quais entra em campo. Aquele elenco precisa tomar consciência daquilo que ele é: o Sport Club do Recife, glória desportiva de Pernambuco, orgulho de milhões de rubro-negros e flagelo dos que cruzam o seu caminho.

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